quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

 O VERDADEIRO DARMA DE BUDA

Tenho lido e ouvido, de professores do zen e praticantes leigos preceitados sobre o verdadeiro darma de buda. Professores que se dizem oferecer o verdadeiro darma de buda e alunos que dizem ter recebido/experenciado o verdadeiro darma de buda. O enunciado “  o verdadeiro darma de buda”, por si só já é dualidade. Se tem um verdadeiro é por que tem um falso. O darma de buda está além dessa dualidade, ele É. Se você não consegue apreendê-lo, vê-lo, percebe-lo , isso não quer dizer que ele não existe.
Mestre Dogen, fundador de nossa ordem , quando voltou da China, trazendo o zen para Japão, disse ao chegar,  que tinha obtido o verdadeiro Darma de Buda. Isto foi o suficiente para deflagrar sérios conflitos com outras ordens budistas. Penso que devemos contextualizar essa fala de Mestre Dogen. Acho que ele não encheu a boca para dizer isto, de forma arrogante e discriminatória e nem era intenção dele provocar  discórdias.
Ele provavelmente queria dizer que tinha aprendido o budismo fundante, ensinamentos sobre a prática budista,  deixados pelo fundador original do zen – Xaquiamuni Buda,  em que o zazen(meditação) fazia parte desses pilares fundantes. Treinamentos em prajna, em sila e Djana, a meditação. Não se fazia meditação nas outras ordens budistas. A prática da meditação -  zazen - é o principal portal para acessar sabedoria(prajna) e compaixão. Exige esforço, disciplina e dedicação. Não basta estudar os ensinamentos de forma intelectual.
No meu entendimento, Dogen fez no Japão, no século XIII o que Bodidarma, no século VII , fez na China, quando levou o darma de Buda para China. Já havia budismo na China, mas era confinado nos mosteiros e não se fazia  zazen – djana. A maneira que encontrou para ser um contraponto, foi sentar-se em zazen de frente para uma parede, dentro de uma caverna, por 9 anos.
Mestre Keizan, também considerado um dos fundadores do zen no Japão, escreveu o Denkoroku – Anais da Transmissão da Luz, onde escreve e comenta sobre a iluminação dos ancestrais da linhagem até ele, por volta do ano de 1400. Ele fala sobre as três eras dos ensinamentos de Buda – a era do  Darma Correto, a era do Darma Imitado e, a era do Darma Degenerado. O Darma Correto se expressa quando de tempos em tempos, grandes ancestrais do Darma  retomam os ensinamentos fundantes e presentificam o Buda vivo. Apesar disso, sucessivas gerações , incluindo a nossa, vivemos o Darma Imitado quando seguimos aprendendo uma doutrina que já percorreu tantos caminhos e que segue como a água, para fundir-se no grande oceano  do Darma. O mar não discrimina entre essa ou aquela água. Inclui a todos que desejam, de coração sincero, seguir nas pegadas do Tathagata – como crianças-Buda,  despertando para o pensamento do despertar. Em comunhão auspiciosa
ROHATSU SESSHIN SÃO PAULO 1º A 08 de dezebro Chegar no Templo e sentar em zazen é voltar para casa. Intimidade com as plantas, novas plantas, novos verdes. O pé de Jabuticabeira que deu seus frutos, a orquídea com novas flores, a goiabeira que alimenta os pássaros. Estar em comunidade, onde nunca há solidão. No comer, no dormir e no sentar em zazen. Encontrar os bichinhos, o gato Charlie que vem todo manhoso, os cães, amado Godo, as três soberanas, Prajna, Mori e Piti. Proximidade com a mestra e seguir aprendendo. Proximidade com meus próximos. Onde me abasteço para seguir girando a roda do Darma. Obrigada a todos!