SUPERAÇÃO,
RESILIÊNCIA E PERDÃO
Serei entrevistada para
uma revista do terceiro setor. O tema será superação – resiliência – perdão.
Estou meio que sem
paciência para discutir estas questões, pois parece que a civilização e a
sociedade como um todo tem vivido em estado de alienação e sonambulismo, e este
tipo de pauta pode perpetuar estas condições , se não forem devidamente
compreendidas. Sim, num nível individual, de verticalidade, são competências
importantes, a capacidade de superação, de si mesmo principalmente, de sermos
fortes e resilientes para superar as adversidades e as pancadas da vida e,
que possamos perdoar e ser perdoados por
nossas falhas e insuficiências. A capacidade de nos arrepender de coração, é
sinal de saúde mental pois revela que podemos reparar e aprender com os erros,
e à nível espiritual, nos coloca num nível de grande pureza.
Por outro lado, devemos
desenvolver estas reflexões com responsabilidade. Num momento de crise política
e sanitária, de um número enorme de desempregados, do desmonte de programas
sociais que garantiam renda mínima, com a volta da fome, com o teto de gastos
que impede investimento em saúde e educação, isto tudo consequência de um golpe
de estado, falar sobre superação pode ser um cinismo. As políticas neoliberais
que defendem o Estado Mínimo, mantendo os privilégios de poucos e a miséria de
muitos, jogam a sociedade numa situação
onde cada um que se vire e depois vendem a ideia de superação, da dualidade
entre fracasso e sucesso, a lógica perversa da meritocracia.
Há perdão para isso?
Como o Budismo entende
esse estado de coisas:
Sidarta senta-se
embaixo de uma árvore em meditação, e durante 7 dias em meditação, sentado em
posição de lótus, superando todas as tentações e obstáculos, todos os demônios
que vem tentar a mente humana, raios e tempestades, imagens e fantasias de
mulheres lindas e sensuais. Ele supera tudo, não é desviado do caminho, e na
manhã do 8º dia de dezembro, ele tem o seu despertar.
Por que ele sentou-se
em meditação? Ele era um príncipe numa clã na Índia, há 2600 anos atrás. Ele sempre teve suas necessidades e desejos
atendidos, mas vivia confinado em palácios. Quando virou um jovem adulto, ele
ousou desobedecer o pai e sair para a conhecer a cidade e os vilarejos. Viu
sofrimento, doença, velhinhos desamparados, muita pobreza e viu a morte. Tudo
isso ainda não era uma realidade para ele, e essas experiências o deixaram tão
impactados que passou a querer compreender o porquê tanto sofrimento e qual era
o sentido da vida e da morte. Com a idade de 29 anos, abandona a vida palaciana
e passa a viver na floresta como um asceta. Após 6 anos de árduas privações,
decide somente sentar-se embaixo de uma fícus religiosa e permanecer sentado
até obter as respostas às suas questões sobre a vida e a morte. Eis que no
amanhecer do 8º dia ele desperta, adentra a grande sabedoria perfeita. Dali em
diante é reconhecido com o um Buda, um desperto, o Iluminado.
O cara que percebeu a
realidade do assim como é, a realidade como é, sem distorções e contaminações
de nossas ilusões e desejos, que as
coisas sejam como a gente quer que sejam.
Buda diz: Não há nada fixo
e permanente, ao mesmo tempo tudo é interconectado. Tudo o que existe é o
cosurgir interdependente e simultâneo, e nós somos a vida do universo.
Cada um de nós traz em
si esse potencial e perceber que estamos relacionados. Àquilo que a gente faz,
fala e pensa mexe na trama da existência.
A coisa principal a
desenvolver é a sabedoria. Sabedoria é compreensão clara, de si e da realidade
a sua volta. E isso é treinamento, que exige você estar em contato com livros,
vídeos, professores...para estimular as sinapses através de estímulos neurais e
que você desperte para a sabedoria perfeita. É difícil e fácil ao mesmo tempo,
porque vai depender de sua determinação, de sua dedicação e esforço, de
cercar-se de pessoas que tenham o mesmo propósito.
Assim temos a chance
de transcender ao nosso pequenino ego,
muitas vezes construído por identificações de personagens externos e acabamos
sendo uma soma de identificações, distante as vezes de nosso eu mais original –
você sabe quem é, de verdade?
Sair do egóico para
entrar no Self, no Eu maior, o eu verdadeiro. Esse Eu Maior transcende a noção
de sucesso x fracasso, acredita que todos são merecedores e capazes, basta lhe
oferecer oportunidade e equanimidade.
Esse Eu Maior acredita
na resiliência da Vida, onde a forma
humana é uma das manifestações.
Esse Eu Maior que
acredita na pureza da intenção e do perdão. É difícil perdoar e é difícil pedir
perdão. Temos mais motivos para perdoar ou para pedir perdão?
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