ENTRANDO EM CENA
Quando Buda despertou, a primeira constatação que ele fez foi: Existe Sofrimento. Quando isto aconteceu ele
já estava com 36 anos. Desde muito jovem ele buscava respostas às suas
angustias existenciais. Há 2600 anos atrás, na India, ele desobedeceu o pai e
saiu do palácio(ele era príncipe) e foi misturar-se com o povo. Deveria ter
19,20 anos. Testemunhou pessoalmente a doença, pois viu muitos leprosos, viu a
velhice e a mendicância e, viu a morte. Como ele era muito sensível e talvez
tivesse um fundo depressivo, aquela vivência o marcou muito, que passou a questionar sobre o por quê de tanto sofrimento, o que fazer para superar o
sofrimento, qual o sentido da vida e da morte?
O mês de setembro é dedicado à
prevenção do suicídio, que pode ser considerado o desfecho de um processo que
já estava acontecendo e que não foi possível impedir. O suicídio tem aumentado muito no Brasil,
principalmente entre jovens entre 15 e 29 anos, e recentemente entre jovens
negros. Também entre pessoas idosas. A ocorrência é mais comum entre o sexo
masculino, nas grandes cidades. As causas são várias, dentre elas a ausência da
políticas públicas para a prevenção, a desigualdade social, a popularização da
internet, etc. É a segunda causa de morte entre jovens no país. Torna-se uma
questão de saúde pública. Alarmante!
Geralmente por traz desse ato tem
uma depressão severa que não está sendo identificada e tratada.
O indivíduo entra em cena através
da Certidão de Nascimento, sai de cena com a Certidão de Óbito. Entre uma
certidão e outra a vida acontece e criamos uma identidade, tanto que entre uma
certidão e outra temos a Carteira de Identidade. Como tem sido essa construção
para os nossos jovens , para tantos companheiros nessa viagem, nesse trem como diz
a música? Àqueles que não conseguem e
buscam abreviar a chegada da certidão de
óbito – saindo de cena antecipadamente? Que dor é essa expressa numa atitude
tão extremada? De que sofrimento estamos falando? As vezes pode ser um vazio
tão grande onde nada faça sentido, nem o sofrimento. Sim, pois o sofrimento,
quando acolhido e compreendido, por si só, pode apontar caminhos de superação.
Compreender o sofrimento é compreender a vida e desenvolver meios hábeis para
lidar com as frustrações, com os desafios, com as perdas, com os fracassos, com
as rotinas que podem ser um tédio. As vezes uma pessoa muito jovem ainda não
tem maturidade para compreender tudo isto. Os jovens em especial necessitam de
uma rede de apoio e proteção que olhem por eles, pais , educadores e
governantes mais sensíveis e amorosos, que olhem para cada jovem desse país
como um filho, que deve ser amado e respeitado. Um filho dessa tribo chamado
Brasil. Como diz o poema grego Eneida, “ Se
não há amor, não só a vida das pessoas se torna árida, mas também a das
cidades.”
Buda nos ensinou também que
nascer como ser humano é a coisa mais preciosa. Somos a vida na terra em pura
manifestação e pulsação. Como não haveremos então de cuidar? Não existe vida
mais ou menos importante, vida que vale mais ou menos. Toda a vida é importante
e preciosa. Temos que compreender isto em profundidade para desenvolver uma
sociedade mais solidária e amorosa, mais inclusiva, justa e
respeitosa. Assim, tudo que emerge ficará em harmonia e de acordo com tempo/espaço
que lhe cabe ser e estar nesse mundo!
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