Tirei a manhã para limpar minha casa. Estava na sala,
que fica de frente para calçada. De repente começo a ouvir muitos pássaros
gorjeando. Atraída pela sinfonia vou para à frente da casa e o que eu vejo
foi surpreendente. É como se fosse uma
assembléia de pássaros, todos empoleirados nos fios de telefones e de luz, mas
todos falando ao mesmo tempo, aflitos para serem ouvidos, assim cada um
querendo gritar mais alto. Eram sabiás, bem-te-vis, muitos pardais, acho que
era um pica-pau e vi que tinha até um beija-flor. No total eram em torno de 20
passarinhos. Em seguida minha gata se encaminha, sorrateira para um canto do
pátio. Me antecipo para chegar antes dela, e dos cachorros que também já
estavam a postos. Quando me aproximo vejo um filhotão de João de Barro no chão.
Ou seja, aquele alarido todo era para “avisar” que àquele serzinho estava
ameaçado de ir parar entre os dentes da gata ou dos cachorros.
O pego rapidamente. E agora? Que faço?
Percebo que ele tem uma bola do tamanho de uma bolinha
de gude grudado na garra e outra bolinha se formando na outra. Concluí que ele
havia se lançado em seu primeiro vôo do ninho, mas em desvantagem, pois esses
corpos estranhos o impediam de voar. Pensei que pudessem ser tumores. Que faço?
Segurando o pássaro com uma mão e com a outra procurando uma caixinha para
colocá-lo dentro. Intuitivamente o coloquei dentro da caixa, dei-lhe pão
integral( não com chimia sua bobinha) e água.
Parei tudo e fiz o que tinha que ser feito naquele
momento. O levei para veterinária que atende meus cães e gatos. Ela disse que
realmente pareciam tumores mas que ela não trabalha com aves , e me indicou um
colega.
Volto para casa com o passarinho. À tarde fui para o
consultório. Uma paciente que nunca atrasa me ligou avisando que o pneu do
carro furou e que ela atrasaria. Como o veterinário fica a duas quadras do meu
consultório ( vantagem de morar em cidade pequena), pego a caixa e corro para
lá. Por sorte ele estava lá e disponível, já que não avisei que iria. Ele,
muito atencioso e habilidoso, atende o serzinho, e maneja daqui, dali, fuça com
uma tesourinha e solta o “tumor” – esterco, ou seja, merda e palha do ninho.
Ele recomenda que o filhote de João de Barro fique
mais um dia na caixa para desestressar e que depois posso soltá-lo.
No outro dia o levo para um clube mais retirado, bem
arborizado, sem gatos e cães na volta. Coloco a caixa dentro do carro e rumamos
para o clube. Nas proximidades muitos pássaros cantando. Quando ele escuta
aquilo, se agita dentro da caixa e começa a cantar também. Um som forte,
estridente, de quem estava a plenos pulmões, sedento de liberdade e de vida.
E agora o desfecho dessa historinha. Abro a caixa e
ele sai feito um torpedo lá de dentro. Inicialmente um vôo curtinho, pousa na
grama e saltita. Um senhor ou senhora João de Barro se aproxima e pousa no
tronco de uma árvore , pertinho do filhote, que atraída , se dirige ao tronco.
A cena, só vendo, ele saltita em direção ao pássaro adulto, que por sua vez,
saltita subindo para a copa da árvore, o pequeno segue seguindo ...até que
ambos se lançam num vôo, dessa vem bem sucedido.