quarta-feira, 24 de maio de 2017
RELIGIOSOS
E POLITICA
Penso que esse é um momento
interessante para fazer algumas reflexões sobre algo que tenho observado nas
redes sociais.
Algumas pessoas expressam em
comentários as suas frustrações quando
uma monja de nossa ordem – Zen Budismo – posta algo que tem a ver com o momento
político atual, desde textos a memes. Não sei o quanto pode haver de misoginia
nesta questão.(assunto para outra reflexão)
Eu mesma já fui censurada
por isto, inclusive com denúncia pois a política do face me proibiu de usar o
nome religioso.
O país vive um momento
político dramático. Ficamos todos muito mobilizados e sensíveis. É cada vez
maior a tensão social, opiniões divididas nas redes socias, dividindo ainda
mais a sociedade.
Participo de dois grupos de
diálogo inter-religioso. Um deles se reúne na Fundação Luterana de Diaconia . É
um grupo com lideranças religiosas das igrejas Luteranas, Anglicanas, Irmãs de
diversas ordens católicas, religiões de
matriz africanas e eu, uma monja zen budista.
Elaboramos uma carta aberta
repudiando o golpe da direita e todos os retrocessos foram enumerados,
denunciados. O outro grupo reúne-se numa universidade jesuíta , numa sala com o
nome de Ignácio Ellacuría, um padre jesuíta que foi executado pelo exército
Salvadorenho, com mais 6 padre jesuítas e duas pessoas civis, num ataque às
suas posições em relação a Teologia da Libertação, vertente da Igreja Católica
que tem uma posição politizada em defesa do povo, principalmente dos mais
pobres e em defesa da Democracia.
Esse momento político
dramático, causado por um golpe parlamentar lesa-pátria, que depôs uma
presidenta legitimamente eleita com 54 milhões de votos, mostrou-se irresponsável, misógino e criminoso, abriu os portais para tudo o que tem vindo
nesse rabo de cometa, lançando sua hecatombe para todos os lados.
Em primeiro lugar, pessoas
que criticam a politização de religiosos geralmente são pessoas desprovidas de
um aporte político. Talvez não saibam nem o que significado de direita e esquerda.
Em segundo lugar, confundem
espiritualidade, religiosidade, religioso/a. A minha reflexão não tem a
pretensão de aprofundar a questão, mas ser um religioso/a não garante a
espiritualidade. Tem uma expressão que diz “presença de espírito”, que é uma condição
humana. Pode haver religiosos sem um mínimo de presença de espírito quanto
leigos e leigas, assim como o contrário também é verdadeiro.
Terceiro, pelos comentários
é possível perceber a frustração que advém do materialismo espiritual, ou seja,
em termos de consumo, este é o produto que o religioso tem a oferecer. Se eu
quero consumir política, recorro aos políticos. Também se percebe aversão a políticos e a política, o que não é
bom pois fragiliza a noção de cidadania.
Quarto, frustra o Ideal de Virtuosidade
que se espera de um religioso/a – há uma expectativa e até um certo grau de
exigência que este seja sobre-humano, sendo portador de qualidades e virtudes
que correspondam à este ideal – bondade incondicional, ausência de erros, que
não tenha necessidades materiais, que viva em pobreza e disponível
incondicionalmente às demandas dos que o buscam. As vezes o grau de exigência é
tão alto que pode causar depressão nos religiosos pois ele não vai conseguir
corresponder. Aí o religioso vai ter que lidar com a desilusão mística que
ajudou a promover, que pode
manifestar-se como uma frustração até sentimentos de ira.
Mas amigos, a vida é uma ato
político, comer é um ato político, o acesso digno à saúde, educação, à
previdência social e ao emprego com garantias e uma renda digna , tudo é
atravessado pela política. Não tem como ficarmos apartados. Se isso ocorre é
por alienação, imaturidade, pouca disponibilidade para, pelo menos, inteirar-se
minimamente com os destinos políticos de sua pátria. Não se exige engajamento e
militância, mas não condenem quem adentra o viés político e que tenha a boa
intenção de defender a democracia e a justiça social. Que bom se todas as religiões e religiosos se
engajassem sinceramente a defender o paraíso, a terra pura, aqui na Terra, para o bem de TODOS os seres.
O religioso, em seu sacro ofício, tem a capacidade de religar corações e mentes, contribuindo
que menos corações sejam rompidos – corrompidos!
segunda-feira, 15 de maio de 2017
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