sexta-feira, 28 de agosto de 2015
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
SE ESSA, SE ESSA RUA FOSSE MINHA...
Parte II
Tenho
resignificado meus valores a respeito de progresso e prosperidade alinhado com
a economia, PIB, esses conceitos. Decidi abrir mão do meu carro, talvez por um
tempo, talvez pra sempre, não sei. Mas está sendo uma experiência muito
interessante ver e viver a cidade a partir de uma perspectiva mais horizontal,
a pé, ou da janela de um ônibus. É uma delícia caminhar a tardinha no verão, ou no sol no outono e inverno. Cruzar com as
pessoas, cada uma com seu ritmo e destino.
Mas nem
sempre é agradável caminhar em São Leopoldo, cidade onde moro. Como a maioria
das cidades no Brasil, a minha tem sido
pouco pensada e planejada para pedestres, ciclistas...os novos tempos pedem
novos projetos. As calçadas são ruins e perigosas, principalmente quando já não
se é jovem, as ruas e jardins estão sujas e mal cuidadas e, atravessar algumas
ruas e avenidas é um desafio. Sobram pardais e faltam sinaleiras para pedestre.
Fiz questão
de iniciar essa crônica(parte II) com a mesma introdução, mas somente para
inserir o tema principal, que deve ser nosso objeto de reflexão.
Da
perspectiva Budista, somos a vida na
terra – esse “somos” incluiu todas as
formas de vida, inclusive a própria terra e todos os seres, animais, humanos,
minerais e vegetais, pra não dizer todo o universo e multiverso. Tudo é vida em
manifestação – então, quando cortamos uma árvore na raiz, estamos violando a
vida, na raiz. Caminhar pelas calçadas de
São Leopoldo me fez perceber o quanto se corta de árvores na cidade,
pois não há nem o pudor de disfarçar.
O fato mais
recente, que disparou essa crônica, foi
quando vinha para meu trabalho e na esquina da Lindolfo Collor com a São João,
a moradora do prédio, varrendo a calçada , muito feliz , dizia em alto e bom tom “
finalmente, só pedi pra podar e a prefeitura veio e cortou a árvore toda.”
Como assim?
Está tão fácil assim cortar árvores em São Leopoldo?
Foi assim
com a figueira na rótula do Rio Branco?
O que é uma figueira perto de uma agência do
Itaú, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco? Nada. Mas é vida. Até
onde eu sei, a figueira é uma das quatro
árvores sob a proteção dos órgãos
ambientais.
Foi assim
com a enorme árvore que tinha em frente
ao Colégio Gusmão?
E com tantas
outras que ficaram fora do alcance do olhar da minha câmera, pois o caminho que
percorro entre minha casa e o trabalho é somente uma amostra.
Dizem que
cada árvore que é cortada deve ser substituída por não sei quantas outras...gostaria
de saber onde fica esta floresta!
O comércio é
o inimigo número 1 : Abriu um comércio, o proprietário trata de garantir que a
fachada fique visível, como se isso fosse garantia de sucesso. A primeira
atitude é arrancar/cortar alguma árvore que possa estar no caminho...do
sucesso? Mas quando é verão as pouquíssimas árvores são disputadas para
estacionar os carros.
O que resta das árvores são suas raízes expostas, expondo também
a nossa ignorância. Será que com a quantidade de informação e tecnologia que
temos hoje ainda precisamos travar uma batalha com a natureza, a vendo como inimiga que tem que ser
dominada? Este pensamente era aceitável no tempo das cavernas mas não hoje. Não
o foi nem na época da revolução industrial. Não seria mais elegante e
responsável fazer com àquela bela
figueira fizesse parte do cenário do novo prédio? Quem sabe um grande terraço
tendo-a como cobertura. Incluí-la no projeto ao invés de excluí-la
impiedosamente. Os imóveis que mais valorizaram em POA são justamente àqueles
que tem árvores nas ruas, inclusive a rua eleita a mais bonita do mundo.
Quando foi que perdemos nossa capacidade de nos surpreender , de nos escandalizar , de nos chocar, de nos
apiedar ? Essa semana aconteceram fatos que revelaram o quanto ainda temos que
evoluir em nossa humanização. Nascer humano não garante humanidade. A morte do
leão Cecil, o trem em Madureira que passou por cima do homem que havia sido
atropelado...que vergonha! Que vergonha! Pra não falar da Amazônia. Conseguimos
terminar com a pororoca! Mas essas são capa de manchete. É mais fácil apontar o
que está longe. Mas a mentalidade, à serviço do capital e não da vida é a mesma
para ambas as situações. O que dizer sobre as fotos? Não parecem cadáveres que
necessitam ser sepultados, com respeito? Quantas vezes deixamos de ver o que
está tão perto de nós? Como se diz, na ponta do nariz, ou pior, tropeçamos e
não vemos. Tão perto que não enxergamos. Acordar para esta realidade
significa resgatar nossa própria
natureza, pois não há vida mais ou menos importante. Enquanto não houver compreensão que nada é separado, que há uma
teia em que intersomos, não deixaremos somente raízes expostas mas também nossa
incapacidade em viver em harmonia na casa que é de todos. E o que parece força
é somente fragilidade.
Neste lugar havia uma linda figueira.
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