terça-feira, 23 de junho de 2020






DISTANCIAMENTO SOCIAL

20 de junho de 2020 -  dia que bateu a marca de 50.000 mortos pela Covid-19. Confinada em casa desde 16 de março – 3 meses – duas ou três saídas de carro – ir no zendô/consultório molhar as flores, comprar ração e ir na farmácia. Agora nem isso, o carro já não pega.
Por 10 dias não teria havido o retiro no final de fevereiro – passou de fininho. Já se falava da pandemia,  que antes distante, estava se aproximando. Foi um marco para mim. Organizar um retiro para 60 pessoas, com a presença de Coen Roshi. O peso todo dessa responsabilidade.
 Sentimento contraditórios – as vezes um choro convulsivo de tristeza por todo esse cenário que vivemos no Brasil pós golpe, onde a pandemia não poderia vir em pior hora – genocídio/genocidas. Desastre sanitário e econômico. Que será do nosso povo? E sensível e frágil, escuto  uma música do Criolo, que me faz pensar nos contrastes entre as gentes e os diferentes mundos habitáveis – samsara e nirvana, despertos e sonâmbulos, bodisatvas que expressam a coletividade e o egocentrismo ilimitado.
Quando fechei o zendô/consultório no centro da cidade, acreditava que seriam 3-4 semanas e, tudo voltaria ao normal rapidamente.  Parece que faz tanto tempo! Eu já atendia duas pessoas por internet, assim que a migração dos pacientes de presencial para virtual não me pegou totalmente de surpresa. Que bom! Quanto as atividades como monja, entrei num vácuo. Com o passar das semanas  as fichas começaram a cair...essa era a nova realidade e os prazos para se voltar à antiga ordem, começaram a se alargar. A  minha residência já havia sido reformada para os retiros. Comporta bem até 15 pessoas. Com o estímulo de Coen Roshi, iniciei um projeto de uma live por 21 dias. Fui pegando o jeito e essa live passou a ser diária : 15 minutos ensinando o zazen – 30 minutos de zazen e mais 15 minutos para perguntas e respostas e ensinamentos. No final, interajo um pouco com o mais assíduos, assim quê, uma sanga virtual se formou. Por iniciativa de uma praticante, na primeira semana do mês, ela passa o “chapéu virtual” – dinheiro que tem sido usado para pagar as despesas do zendô que está fechado.
Por um lado, me sinto afortunada pois a covid não bagunçou a minha vida. Vivo de forma confortável, não tenho sofrido prejuízos financeiros. Mais ou menos o que Darwin falou. Sobrevivem os que tem mais condições de se adaptar . Isto não é exatamente que dizer que os mais fortes sobrevivem, pois apesar de tudo, não estou segura, pois sou do grupo de risco, precisaria ir no médico e no dentista, o que não tem sido possível nesse momento.
Nessa experiência, o mais surpreendente foi a descoberta que é possível levar o Darma de Buda até as pessoas através da internet, coisa que Roshi Sama já vem fazendo a tanto tempo. É justamente nesses tempos de confinamento que tenho interagido mais com a minha comunidade de praticantes, assim como com minha Mestra e meus pares, outros senseis. Agora temos até um grupo de estudo entre os senseis. Coisa que antes, com as correrias de cada um, isso passava...
Tenho tido uma agenda lotada de encontros virtuais, lives, praticantes, pacientes, grupos de estudos...preciso ficar atenta pois os horários das conferências são muito exatos.
O han – martelo de madeira toca – eu largo tudo e me conecto à internet. Novos tempos!


Monja Kokai
21/06/2020