domingo, 31 de janeiro de 2010
















UM POUCO MAIS DE UMA CAMINHANTE...

Seguia praticando no Via Zen, que fica em Porto Alegre, distante 36 km de São Leopoldo, cidade onde moro e clinico há 23 anos, como psicóloga. Fiquei muitos anos nesse vai e vem e fui ficando cansada, pois para quem não sabe, a estrada entre uma cidade e outra é a BR 116, conhecida nossa pelos engarrafamentos e acidentes.
Sem ter muita consciência, iniciou-se um movimento para me aquietar, me instalar mais solidamente em São Leopoldo, cidade que desde que o PT assumiu há 5 anos, tem ficado cada vez mais bonita e agradável. Não estou fazendo nenhum tipo de propagando partidária mas isto é um fato, tanto que o atual prefeito foi reeleito pela esmagadora maioria dos eleitores. Estar distante 5 minutos de carro de quase tudo também é muito bom. Na falta de carro ônibus na frente da porta também...
Em 2006 passei a oferecer meditação no meu consultório, mas tinha um viés meio clínico e então em 2007 iniciei um grupo na Madhuban, um Centro de Ioga coordenado pela querida Chica, Francisca Fidelis, muito conhecida na cidade e que nos acolheu generosamente, sem nenhum interesse além de simpatizar com o Zen Budismo e de acreditar na meditação e seus benefícios. Era nosso zendô móvel ( zendô é a sala de meditação), pois montávamos e desmontávamos o zendô todas as sextas-feiras. Nosso altar foi montado em cima de uma mesinha de ferro. Minhas toalhas e trilhos de crochê feitas pela minha mãe passaram a ter lugar nobre – o altar do Buda.
A “broto sanga” estava tomando corpo e em 2008 fomos para nosso próprio espaço. Pequeno como nossa sanga, modesto como nossas intenções. Observem que eu ainda não era monja e sim uma preceitada, ou seja uma discípula leiga que tomou o refúgio formalmente e fez votos de seguir os preceitos budista para leigos numa cerimônia chamada Jukai. A minha foi oficiada por Mestre Moriyama Roshi e recebi o nome budista Kokai (Ko : votos, vocação . Kai : oceano), nome escolhido pela Monja Zuiten que significa um oceano vasto/profundo de vocação, votos. Isso foi em fevereiro de 2004.
Meu projeto inicial era ser um satélite do Via Zen na região do Vale do Sinos. Hoje percebo que eu já não queria mais essa correria, esse vai e vem , mas queria trazer junto comigo o Via Zen. Mas deixo esta história pra depois...
Vale do Rio do Sinos – Vale dos Sinos...Vale do Sinos – que confusão. Essa explicação também fica pra depois...
Gasshô.

sábado, 30 de janeiro de 2010

















































Amigos!
Compartilho algumas fotos de nosso passeio a Bento Gonçalves quando levamos Coen Roshi para conhecer o Caminhos de Pedra, onde pudemos ver um pouco da cultura italiana e suas tradições. O clima foi de muita alegria e descontração como vocês podem ver nas fotos. Tivemos conosco a Ana Dokô e sua filinha Rebeca fazendo seu primeiro passeio em sanga.
Sensei Coen esperava poder amassar a uva com os pés mas chegamos um pouco andiantados. Isto só ocorre em fevereiro. Ela terá que voltar!
Gasshô






terça-feira, 26 de janeiro de 2010




Mais um pouco de minha história no zen...



Monja Zuiten iniciou o tratamento de sua doença no Brasil e depois de um tempo voltou para Alemanha para estar com os seus.
Como um ciclo que se completa, Moryama Roshi retorna ao Japão.
Minha porção infantil sentiu-se regressivamente órfão. Onde estavam estas figuras queridas que eu idealizei tanto e que foram alvo de tantas boas projeções?
Minhas primeiras vivências no zen estavam instaladas através dessas matrizes. Eu já era um projeto de molde.
A casa ficou vazia!
Profundamente afiliada torcia para o Via Zen resistir.
Algumas pessoas tiveram grande protagonismo para a superação dos obstáculos institucionais.
Amorosamente e sabiamente , Moryama Roshi confiou a sanga a Sensei Coen Roshi, que nos trouxe novas possibilidades.
O Via Zen teve que viver suas crises de desenvolvimento. Acho que não se cresce sem crises em meio ao caminho. Mas como diz o ditado “Crise é perigo mas também oportunidade.”
As crises na verdade acabavam sendo um teste à capacidade da instituição suportar os desafios. E com o suporte e estímulo de Sensei Coen Roshi, tudo isto se converteu em amadurecimento e confiança da sanga, de onde emerge seu primeiro monje: Dengaku-San. Depois disso ninguém segurou mais. Veio Monge Kohô, Monja Kokai e Monja Shoden.
Que processo!
YES, WE CAN.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010








Continuando...
TINHA UMA PEDRA NO MEIO DO CAMINHO, NO MEIO DO MEU CAMINHO TINHA UMA PAREDE.
Meu primeiro contato com o zen foi no final de 2001. Fui apresentada pela minha amiga Rosângela, hoje Monja Shoden, companheira então, de outras caminhadas. Naquela época eu já havia vivido etapas importantes na minha vida e algumas construções importantes estavam encaminhadas e outras consolidadas. Tinha minha profissão, dois filhos, um bom casamento que proporcionava estabilidade financeira e um refúgio. Estava casada com o casamento, e esta condição me deixava alienada e engessada. Separei-me e no início não foi fácil. Era eu o e mundo. Mundo esse bastante hostil e árido. O samsara nu e cru, sem intermediários. Passei a ter necessidade de buscar um caminho espiritual e para minha grande sorte, quando cheguei para minha primeira meditação me senti “chegando em casa”. Entre eu e o mundo tinha agora uma parede. Parede essa que me acolhia, dava continência e ao mesmo tempo libertação. (Pra quem não sabe a meditação zen é sentada de frente para uma parede, em posição de lótus, meio lótus ou birmanesa, em uma almofada chamada zafu, ou num banquinho apropriado para isto.)
Conheci Mestre Moryama Roshi e Monja Angélika Zuiten, que me inspiraram confiança. A ancestralidade do Zen estava representa na figura de um mestre genuinamente japonês e minha ancestralidade germânica na figura de Monja Zuiten, por quem logo senti grande afinidade e apreço.
Causas e condições operando.
Certa vez Monja Zuiten falou que no Zen ela conheceu a maneira mais nobre e digna de viver a vida. Eu acrescentaria também, de viver a morte. Quando eu e Gisela estivemos na Alemanha visitando Mirthy, irmã de Zuiten , esta narrou os últimos meses de vida da irmã. De como ela e seus familiares ficaram emocionados com a coragem, sobriedade e nobreza de Monja Angélika Zuiten, mesmo em momentos tão difíceis e dolorosos.
Ela estava certa!
Até mais...

domingo, 24 de janeiro de 2010


A PRÁTICA DO SUJEITO O SUJEITO NA PRÁTICA.


Atualmente meio de férias e reflexiva, encontro tempo para escrever um pouco e curtir meu blog. Me comprometi comigo mesma de escrever, superando o receio de escrever bobagens, alguns erros de português, os possíveis olhares da crítica. Quem sabe numa dessas eu escrevo algo interessante!
Como psicóloga que sou, movida pelos vícios do ofício, não me faltam questionamentos. Por muito tempo a pergunta da vez era por quê eu escolhi a profissão de psicoterapeuta?
Atualmente me pergunto por quê escolhi ser uma praticante e seguir o monasticismo?
Penso que cada praticante já possa ter se pergunta isso alguma vez.
Não é fácil encontrar uma resposta que dê realmente conta, não é mesmo?
A resposta mais genérica seria que causas e condições nos trouxeram até aqui. Mas que causas são estas? Que motivadores são esses? O que nos faz permanecer, enquanto tantos desistem?
Para pensar...amanhã teremos mais.
Gasshô

sábado, 23 de janeiro de 2010


VERÃO...SOL..FÉRIAS...


MAS HÁ O RETORNO

E ONTEM A CASA ESTAVA CHEIA NO ZAZEN

CHÁ COM MUITAS GULOSEIMAS?

AFINAL DE CONTAS...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


Caminhante,

não faço o caminho

por onde eu caminho

mas o caminho me faz caminho

o seu caminho.


Se olho para trás

não vejo as marcas

que eu deixei na trilha.

Mas dentro de mim eu sinto

o sinal que a trilha me deixou.


E quando eu chego

não chego a parte alguma

além do caminho de onde eu vim.

(Antônio Machado)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

21 DE JANEIRO - DIA NACIONAL DE COMBATE À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.


21 DE JANEIRO - DIA NACIONAL DE COMBATE À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.

Trata-se de uma iniciativa do Governo Federal, e esta data deve ser celebrada anualmente em todo o território nacional, fazendo parte do calendário cívico da União.

Como Budistas também somos chamados a refletir e contribuir com nossa participação no diálogo entre as religiões. Monja Kokai representa o Zen Vale dos Sinos nos encontros do GDIREC-Grupo de Diálogo Inter-Religioso e Ecumenismo, que se reunem regularmente na Unisinos.

A interação entre as lideranças religiosas é fundamental pois é a expressão viva de que é possível conectar-se ao sagrado além da forma, além dos conceitos.

Combater a intolerância religiosa foram as palavras escolhidas para nomear esta data. São expressões fortes e podem até serem contralidórias. É como querer conquistar a paz através da guerra. Devemos sim, superar a intolerância, assim como superar a tolerância e caminharmos para a aceitação incondicional e amorosa de toda manifetação religiosa ética e responsável.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010




ENTREVISTA CONCEDIDA AO IHU



Zen Budismo brasileiro: uma construção a partir de uma tradição milenar. Entrevista especial com Monja Kokai
Na última sexta-feira, dia 20-11, o Mestre Moriyama Roshi, considerado um dos maiores mestres vivos do Zen-Budismo japonês, esteve em São Leopoldo. Monja Kokai, líder religiosa do centro de práticas Zen Vale do Sinos, comenta a importância dessa visita e aborda outros aspectos da prática zen.Confira a entrevista.



Na sexta-feira, dia 20 de novembro, o Mestre Zen Japonês Moriyama Roshi (foto) esteve em São Leopoldo, em visita ao Zen Vale dos Sinos. Moriyama Roshi é considerado um dos maiores mestres vivos do Zen-Budismo japonês, tendo sido um dos grandes responsáveis por expandir a prática Zen, ainda na década de 60, nos Estados Unidos. A partir da década de 90, veio para São Paulo, congregando praticantes entre os numerosos imigrantes japoneses do pós-guerra. De 2000 a 2005, residiu em Porto Alegre e então voltou ao Japão.
Nesta entrevista, Monja Kokai (Vânia Eckert, de batismo), à IHU On-Line, líder religiosa do centro de práticas Zen budistas Zen Vale do Sinos, comenta a importância dessa visita e aborda outros aspectos da prática Zen. Psicóloga há 23 anos e especialista em família e casal, Kokai foi ordenada monja em maio deste ano pela Monja Coen, de São Paulo, da qual é hoje discípula. Monja Kokai também participou do programa "Religiões do Mundo", organizado pelo IHU entre agosto e outubro deste ano, para fomentar o debate sobre a ética presente nas grandes tradições religiosas, especialmente o Budismo.
Eis a entrevista.
IHU On-Line – Moriyama Roshi é considerado um dos maiores mestres vivos, um dos patriarcas do Zen-Budismo japonês. Qual é a trajetória/formação de Roshi e como ele chegou a esse patamar de reconhecimento?
Monja Kokai – Moryama Roshi é mais conhecido por esse nome, mas dentro da linhagem seu nome é Horin Daigyo Daioshô. Ele nasceu em março de 1938, no extremo norte do Japão. Aos 22 anos,concluiu seus estudos de filosofia em Tóquio, e reencontrou seu mestre Hakusan Kojun Roshi.
Ele começou a praticar o zazen, e impressionou pela dignidade e compaixão viva de um Roshi, titulo honorífico dado aos antigos praticantes que significa “velho sábio”. Decidiu, então, tornar-se monge.
Foi ordenado aos 24 anos e passou um ano em Eihei-ji, templo fundado por Meste Dogen, e cinco anos em Soji-ji, um templo fundado por mestre Keizan Jokin, os dois principais ancestrais na escola Soto-Zen. Ele realizou a prática monástica e iniciou um curso especial para transformar-se em professor do Dharma, um Sensei. Ele recebeu a transmissão de seu Mestre, Hakusan Kojun Roshi.
Seu mestre o enviou para seu irmão do Dharma, Niwa Roshi, para completar sua formação. Ele ficou dois anos na seção de Tóquio do Eihei-ji. Niwa Roshi lhe pediu, então, para ir a San Francisco, na Califórnia, Estados Unidos, para retomar o templo precedentemente dirigido por Suzuki Roshi (este havia se retirado para fundar o Zen Center). Esse seria o primeiro encontro de Roshi Moryama com o Ocidente – a San Francisco do fim dos anos 60! Grande choque, e grande admiração pela força da prática dos ocidentais.
Após três anos, Moryama Roshi voltou ao Japão, junto a Niwa Roshi. Nesse momento, ele é professor, depois passa a ser Ino (Mestre professor de monges). Depois de seis, ele recebe o título de Shike (Mestre de monastério). Ajudado por seus mestres, ele funda o Zuigakuin nas montanhas japonesas. Zuigakuin é um pequeno templo, consagrado a prática tal como ela é exposta por mestre Eihei Dôgen: meditação (Zazen) e trabalho (Samu) – a prática inclui também Takahatsu (pedir esmolas), reatando assim com a tradição budista dos monges mendicantes e pobres. A outra fonte de renda é somente doações feitas pelos visitantes e discípulos. Pouco conforto – nada de eletricidade, nem telefone, pouco aquecimento –, mas rico de Dhrama, e aberto a todos: japoneses e estrangeiros, homens e mulheres. O único que conta é o desejo de praticar e seguir o caminho dos ancestrais; uma vida simples, preciosa, uma prática rara no Japão atual. O templo foi aberto em 1978.
Em 1992, Roshi Niwa pediu a Moryama para partir, desta vez para a América do Sul. Mestre Moryama foi nomeado Sokan (responsável da Soto-Zen na América Latina). Ele morou em São Paulo, cidade de imigração de numerosos japoneses pós-guerra. Ele reconstrói o templo da comunidade e cria grupos de Zazen para brasileiros, em São Paulo e em outras cidades brasileiras. Sua discípula Joshin Sensei começará grupos de zazen na Argentina, no Uruguai e no Chile. Mas desejoso de seguir a vida simples de monge, Meste Moryama, quando tudo está em ordem, se demite e volta a Zuigakuin, onde continua a acolher visitantes e praticantes até o início do ano 2000, quando parte para Porto Alegre, para dirigir um novo templo. Em sua ausência, Zuigakuin não aceita mais os visitantes estrangeiros, e as pessoas interessadas podem dirigir-se a Delemeure Sans Limites, na França, onde prossegue seu Dharma, através de sua sucessora, Joshin Sensei.
Moryama tem ministrado ensinamentos tanto para monges quanto para discípulos leigos, por mais de 40 anos. Desde o início, sempre teve especial interesse em ensinar a prática do Zen para pessoas que não tem experiência anterior no Budismo.
De fevereiro de 2000 até fevereiro de 2005, residiu em Porto Alegre, assumindo a orientação espiritual do Viazen, grupo ao qual eu pertenci de 2000 a 2009.
Mais alguns dados:
1970-73 - Monge Superior do Soko-ji Zen Temple, em San Francisco, USA 1978 - Fundação do Zuigakuin International Zen Temple, próximo a Tóquio, Japão 1992 - Fundação do Hokai-ji International Zen Temple, em St.Agreve, França 1993-96 - Monge Superior do Templo Bushin-ji, em São Paulo, Brasil. Fevereiro de 2000 – 2005 - Muda-se para Porto Alegre, Brasil.
Monja Coen (D) e Monja Kokai, no dia de sua ordenaçãoIHU On-Line – Qual a importância da vinda de Moriyama Roshi a São Leopoldo? O que ela significa para o Zen Vale dos Sinos?
Monja Kokai – Tive a grande sorte de iniciar minha prática com esse grande mestre. Essa ligação permanece para sempre. Fui sua aluna de 2001 a 2005, quando ele então voltou para o Japão. Na ocasião, ele confiou a orientação espiritual da sangha (grupo de praticantes) para Sensei Coen Roshi, abadessa do templo Tenzui Zenji, de São Paulo. Atualmente, sou sua aluna e discípula. Para mim, é uma alegria enorme poder rever meu querido mestre. Para São Leopoldo, e em especial ao Zen Vale do Sinos, é uma grande honra recebê-lo.
IHU On-Line – No dia de sua visita, haverá uma "meditação silenciosa", com zazen e a recitação de sutras. O que são esses rituais e como são celebrados?
Monja Kokai – O zen budismo é uma religião. Como tal, tem seus ritos, cerimônias e liturgia. Além disso, a meditação (zazen) é outra prática importante. Também é importante seguir os preceitos e a ética budista. Uma pratica complementa a outra, formando um corpo doutrinário que sustenta essa tradição religiosa.
IHU On-Line – Qual é a importância da figura de um mestre dentro da tradição do Zen Budismo?
Monja Kokai – Um mestre ou uma mestra zen é a conexão viva com os Budas e ancestrais. Ele/a recebeu a transmissão de um outro mestre e o fará novamente quando escolher os seus sucessores, que terão o compromisso de levar adiante os ensinamentos de Buda Shakiamuni, girando a roda do darma – dos ensinamentos budistas – em benefício de todos os seres.
IHU On-Line – Em síntese, no que consiste o Zen? Quais são os pontos principais da tradição religiosa do Zen-Budismo?
Monja Kokai – Antes de tudo, é uma religião. Tem um clero e uma hierarquia definidos e instâncias que a representam. A partir dos anos 60, foi se expandindo a partir de toda a Ásia, inicialmente para a Europa, América do Norte e em seguida América do Sul. Existem os mosteiros, os templos e os centros de prática. A palavra religião vem de religare ou releitura. É a possibilidade de ler de novo nossa própria história, rever a tapeçaria de nossa existência e colocar em perspectiva o que nos dá sentido. Budismo fala de compaixão e sabedoria. Para desenvolver essa condição, é necessário conectar mente e coração. Contatar com o sagrado que nos habita, habita todos os fenômenos, a vida em si mesma. Mas acima de tudo o zen é uma experiência pessoal e intransferível. É difícil definir o zen com palavras, pois está além de conceitos e abstrações. É como querer agarrar a água com as mãos. Zen é a possibilidade de entrar em contato com a realidade última, dimensão que a palavra não dá conta, além do pensar e do não-pensar, transpor a mente dual, tão condicionada, principalmente no Ocidente. A mente cartesiana, aquela do "penso, logo existo". Busca-se atingir o nirvana, que nada mais é do que uma mente de paz e tranquilidade.
IHU On-Line – Quais as práticas e rituais do Zen Budismo? Qual o valor da meditação?
Monja Kokai – As principais práticas são o zazen (meditação sentado), kinhin (meditação caminhando), cerimoniais, liturgia, retiros e vida monástica. As cerimônias são batizados, casamentos, funerais. Outra prática é o Samu – trabalhar com mente meditativa. Pode ser limpeza, jardinagem, cortar lenha... Na Ásia, outra prática é esmolar. Todas as manhãs, os monges pedem esmola, e a comunidade oferece os alimentos ou dinheiro que os monges necessitam. É tradição que os monges sejam sustentados pela comunidade em troca dos serviços espirituais. No Ocidente, é comum os monges trabalharem, o que às vezes limita as possibilidades do monge/a poder aprofundar sua própria prática e estudos.
A meditação, em especial, tem origem na Índia antiga e data de 5.000 anos atrás, sendo desenvolvida pelos ioges. Buda escolheu a meditação sentado, depois de viver em ascetismo durante seis anos. Sentou-se sob uma árvore durante sete noites e, no amanhecer do oitavo dia, iluminou-se . A prática do zazen (meditação sentado) facilita o caminho espiritual, integrando corpo e mente. Para que possamos ter uma condição de paz interior e termos um coração mais nobre e compassivo, conosco mesmo e com ou outros, é necessário uma mente tranquila e lúcida. Aí passamos a não ser moles demais – só coração – e nem duros demais – só racionalização). Nossa intuição emerge mais afinada e sábia.
IHU On-Line – Quem é Buda para o Zen Budismo?
Monja Kokai – Shakiamuni Buda é o fundante de todas as tradições Budistas. O príncipe Sidarta Gautama, que, ao sair dos seus castelos, o que vê? Velhice, doença e morte. Ele se compadece de ver tanta dor e sofrimento. Abandona a vida palaciana aos 29 anos e dedica o resto de sua vida a compreender e descobrir as causas de tanto sofrimento e as formas de superá-lo. Desde então até os dias atuais, os ancestrais do darma até os mestres de hoje formam uma linhagem, em que nenhum elo até hoje foi rompido.
IHU On-Line – Sendo uma tradição oriental e milenar, como a cultura local e regional recebem esses ensinamentos? Como vem sendo feita essa "importação" do Zen Budismo para cá?
Monja Kokai – O Budismo no geral tem sido muito bem recebido no Ocidente, alavancado pela globalização e por Sua Santidade, o Dalai Lama. A história do zen é mais antiga no Ocidente, tendo vindo para cá através dos Estados Unidos e da Europa a partir dos anos 60. Fala-se de construir um Budismo brasileiro. Isto, com o passar dos anos, realmente vai acontecendo. É um processo em que primeiro é necessário aprender e incorporar a tradição tal qual os grandes mestres ensinaram e difundiram. O zen tem mais de 1.200 anos e já teve tempo suficiente de aprender com seus erros, sendo então a forma atual sábia e meritosa. O Budismo, no entanto, é como a água, que vai penetrando, se adaptando e se acomodando de acordo com o local onde está se inserindo.
Para ler mais:
Revista IHU On-Line - Sabedoria, mística e tradição: religiões chinesas, indianas e africanas
Budismo. Transcendência para todos: a filosofia budista
Zen Budismo: a religião em si mesma
Zen Budismo: em busca da paz
Nada fixo nem permanente: o Zen Budismo e as narrativas de Deus
O budismo e o “silêncio sobre Deus”








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Confira os principais fatos noticiados no dia.
Revista do Instituto Humanitas Unisinos aborda nesta semana:
Conferência Nacional de Comunicação. Uma conquista e os seus desafios

Leia na íntegra
Realidade BrasileiraData: 11/4/2008 a 19/6/2009 Local: Casa do Trabalhador - Rua João Batista Gabardo, 151 - Sítio Cercado - 81900-310 Curitiba, PR.
A equipe do IHU conta o que acontece no dia-a-dia do Instituto. Acompanhe o que acontece nos bastidores.
Clique e confira




quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

VOTO DO BODISATVA


" Seres são inumeráveis, faço o voto de salvá-los;

Desejos são inexauríveis, faço o voto de extinguí-los;

Portais do Darma são ilimitados, faço o voto de aprendê-los;

O caminho do Buda é insuperável, faço o voto de realizá-lo."



Esses são os votos de um praticante Budista. Mas o que é um Bodisatva?


Um Bodisatva é aquele que renuncia atingir a iluminação e faz votos de salvar todos os seres que estão em sofrimento. Toma a peito a dor alheia pois acolhe o sofrimento do outro com os olhos do coração, ajudando-o a atravessar para outra margem, esta libertadora.




Doença por grande compaixão.


Da loucura surgiu o amor, e esta é a razão da minha doença. Desde que todos os seres estão doentes, eu também estou. Quando eles se curam eu também estarei curado. E por quê?

Um Bodisatva entra no ciclo de morte e nascimento por causa de todos os seres(...)Se todos os seres estivessem livres de doença, o Bodisatva também estaria livre. Quando, por exemplo, adoece o único filho(...)adoecem também seus pais por preocupação com ele, e quando ele se recupera, os pais também voltam a saúde. Com um Bodisatva também é exatamente assim; ele ama todos os seres como a um filho e, enquanto todos os seres estão doentes, ele também esta doente e, quando eles saram, ele também sara. Perguntaste-me pela causa de minha doença; a doença de um Bodisatva é causada única e exclusivamente pela grande compaixão.

(Vimalakirtinirdesha-Sutra - século II dC)

Extraído do livro de Leonardo Boff , Princípio de Compaixão&Cuidado.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A DOR DO OUTRO É TAMBÉM A NOSSA DOR

Estamos em luto. Temos assistido muitos desastres naturais nestes últimos meses. Muita chuva, muitos vendavais, granizo, calor de passar mal, e hoje acordamos com a notícia do terremoto que devastou Porto Principe, no Haiti. Povo já tão sofrido. É muito doloroso acompanhar as notícias, que dirá viver esta realidade. O que já é tão triste ficou tão mais triste com a morte de Da. Zilda Arns. Exemplo vivo de caridade, amor e solidariedade. Choro e lamento profundamente esta perda. Ela estava onde deveria estar. Morre uma Buda, nasce uma Buda.
Que os méritos de sua prática se estendam a todos os seres e que possamos todos, nos inspirar e nos tornar um caminho de luz e humanidade.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010


ROHATSU SESSHIN
RETIRO DE ILUMINAÇÃO DE BUDA

1º a 08 de dezembro de 2009.

Este e um breve relato do retiro de 8 dias que participei em São Paulo, na praia de Peruíbe. Uma casa ampla, linda e moderna, 5 suítes, o que permitiu que ficássemos muito bem instalados. Piscina e pátio amplos e belíssimos. O clima dos primeiros 4 dias foi de muito calor, abafado e úmido. A roupa de monja, que não são poucas, colava no corpo. A primeira lição a ser tirada era que ficava claro que não estávamos ali para confraternizar e nem para veranear pois em nenhum momento era cogitada a possibilidade de um mergulho na piscina ou de uma banho de mar.
As consignas estavam claras. O silêncio deveria ser preservado e o sesshin visto como um grande período de zazen, que inicia com a abertura do sesshin e seu final culmina com o encerramento do mesmo. Atentos a nossa postura ao sentar, caminhar e deitar. Postura de Buda. Ficava eu imaginado a postura do Buda e era inevitável usar esse parâmetro para avaliar o meu zazen. Trouxe meu zafu de casca de arroz, forrada de um lado com uma camada de espuma. Achava que meu velho zafu fosse dar conta do meu zazen. Mas não. Pudera, ele ainda me denuncia pois meu nome de darma ainda esta escrito de cabeça para baixo, se eu quiser sentar do lado que tem a espuma. O primeiro e o segundo dia a dor foi suportável o que permitia uma postura conciliadora entre eu e o zafu. Éramos um só. Do 3º dia em diante a dor foi apertando . O que era para ser postura passou a ser descompostura. A dualidade foi se manifestando e já era eu e o zafu, eu e a dor, eu e a parede, eu e a batida do sino, eu e meus pensamentos, eu e minha humilhação. Meu pequeno ego colapsando narcisicamente. O pouco que tinha de nobreza no meu zazen foi sendo substituído por fragilidade, humildade. Senti-me pequena diante do Buda, da Sensei, de outros monjes e monjas, de outros participantes, alguns iniciantes. Apesar de tudo isto, tinha a sensação que havia um conjunto de rashis que me cutucavam me conduzindo para seguir aprofundando, penetrando, retirada, retirante. A cada zazen fui suportando, atravessando. Deslizava sobre o zafu com pequenos movimentos na esperança de dar conta da dor, racionalmente sabendo que não adiantaria de nada. Geralmente só piora. Queria tanto um zazen ereto, quieto, digno de Buda.
No 3º dia do retiro já fui pegando os esquemas e sabia que no intervalo podia dar uma saidinha, dar uma caminhada se quisesse. Saí para fumar um cigarro. Que horror! Discípula de Buda viciada. Parei de fumar por 8 anos e agora ando brincando com coisa séria. Não tenho nem saúde e nem idade pra isto. Mas evitemos julgamentos. Conheço tanta gente amorosa dependente de álcool, cocaína, maconha, cigarro...Aceitar suas insuficiências já é o suficiente. Vi um gatinho. Que saudades da minha Missiê, da minha cadelinha Flor.
A tarde chorei no zazen. A lágrima é a manifestação da dor, do sofrimento, seja ele qual for. Pode ser pelas suas próprias dores, das dores do outro, das dores do mundo. Hoje ventou muito e Sensei disse que vento é transformação, é vida em movimento. Lembrei-me de uma menina que um dia me contou que quando ela ficava aborrecida ou triste no orfanato onde vivia ela se “retirava”, subindo e se escondendo no telhado. Lhe perguntei por que fazia isto e disse: “ Pra ver os ventos do mundo”.
No 4º dia o vento trouxe temperaturas mais amenas. Finalmente me animo a caminhar até o mar já que não tem sol. Estava tudo cinza indicando chuvas . Somente um banhista no mar, fazendo as honras. O calor abafado continuava, parecendo realmente uma estufa.
Hoshin, dono da casa que também é um preceitado, não andou de bermuda em sua própria casa de verão, em respeito a Buda, a tradição.
Nos raros momentos em que eu não estava em zazen na sala do Buda, meu celular tocou, e vendo que era da minha casa, atendi. Era meu filho querendo saber de mim e também para dizer que apareceu um carrapato na cachorra e o que ele deveria fazer. Meus filhos aprenderam a amar os animais – que se estendam a todos os seres.
Dor, tem um tendão que não cede e que me faz lembrar o tempo todo minhas limitações. Será que Buda Shakiamuni teria piedade de mim? Será que Mestre Dogen também?
Freud, o criador da psicanálise, mais para o final de sua obra, quando já enfermo, com um câncer no nariz de tanto fumar charuto, escreveu: “Se não puder seguir andando, que seja manquejando.”
No 5º dia eu já estava furiosa com a dor. Me via em cima do leão como Manjusri. Tentando domá-la. Algumas vezes funcionou, noutras não. Nisso eu já alternava banquinho e zafu. Quando funcionava havia um desdobramento interessante, como se eu tivesse tomado um poderoso remédio para dor e ela cedesse provocando um grande alívio. Parecia que eu havia chegado no portal do samadhi. Que sensação agradável poder fazer zazen com uma dor suportável.
No 6º dia a dor voltou. Já desisti de querer entender. Se é o tendão, se estou fora de forma, se é a idade, nada mais importa, pois assim é. O que ficou pra mim é : atravesse, vá para outra margem, nem se o meu atravessar levar 8 dias, penosamente doloridos.
Nesse dia os monges ( dois senseis) que vieram do Japão recitaram em japonês o Verso Samadhi do Espelho Precioso. Ao ouvi-los me emocionei profundamente – as lágrimas vertiam copiosamente. Só havia ouvido algo tão belo assim de crianças índias das tribos Tupis-guaranis, recitando suas músicas sagradas. Essas crianças e os adultos que as acompanham nas apresentações adentram a postura digna das divindades. A postura, o olhar, é zen.
No 7º dia eu estava energeticamente desvitalizada. Precisei me esforçar para não vacilar. Mesmo assim, quando li a escala de tarefas passou batido que eu estava escalada para ajudar a servir. Como explicar?
Esta seria a ultima noite de zazen, que se estenderia das 20h00 as 24h15, culminado com a cerimônia de encerramento do sesshin. Das 21h30 em diante eu não tinha condições físicas e nem emocionais para acompanhar. Permaneci na cadeira, caminhei, deitei um pouco, mas não poderia dormir pois não acordaria e eu não queria perder a cerimônia.
E assim fui atravessando de uma margem a outra.
Mas são muitas travessias. O retorno de Peruíbe para São Paulo foi complicado por causa das chuvas. O retorno de avião para Porto Alegre foi assustador. Inicialmente, a decolagem foi abortada por problemas técnicos quando o avião já ia em toda velocidade. Em seguida havia um barulho na turbina esquerda que mais parecia uma lambreta velha. Para completar, o ar que estava mínimo parou de vez e todo mundo começou a passar mal. Pensei que poderia ser a minha hora. Como manter a postura numa hora dessa? Como manter a nobreza e dignidade quando a dona morte se apresenta?
Mas deu tudo certo e cheguei em Porto Alegre. Minha filha me aguardava. Ela tem a capacidade de me arremessar no sansara , não me deixando esquecer que ele existe. Minha primeira reação foi tentar desviar e abstrair, mas com reatividade. Ela percebe e comenta que “eu” que vim de um retiro zen. Ou seja, do seu jeito ela estava me pedindo para aceitá-la incondicionalmente, convocando não somente a mãe, mas também a monja, a mulher madura e aquela que busca sabedoria.
Neste momento pela primeira vez fez sentido para mim a não deferenciação entre o nirvana e o sansara, entre o mundano e o sagrado. . Compreendi que é possível retornar para o sansara e ao mesmo tempo retornar e se abrigar no Buda.





Monja KokaI
Dezembro de 2009

Ordenação Monástica Monja Kokai.



Ordenação Monástica de Monja Kokai realizada por Sensei Coen Roshi em 02 de maio de 2009 no Vila Zen em Viamão.



Sensei Coen Roshi com seus monjes e discípulos.