quarta-feira, 23 de março de 2011

Como o monge pode ajudar os médicos

No Brasil, o budista Bhante Yogavacara Rahula defende a ideia de que a meditação pode ajudar a tratar doenças. Os médicos brasileiros concordam

Aretha Yarak
O monge budista Bhante Yogavacara Rahula está no Brasil para participar de retiros espirituais e ensinar técnicas da meditação

O monge budista Bhante Yogavacara Rahula está no Brasil para participar de retiros espirituais e ensinar técnicas da meditação (Divulgação)

Nesta semana, o respeitado Hospital das Clínicas de São Paulo – uma das maiores instituições de saúde do país, referência em pesquisa médica – abriu suas portas para uma visita inusitada e inédita: um monge budista, Bhante Yogavacara Rahula. A convite do ortopedista Rafael Ortiz, professor do Faculdade de Medicina da USP, o americano fez uma palestra a médicos e demais interessados nos benefícios da meditação à saúde, especialmente em casos de depressão, pressão alta, câncer e doenças psicossomáticas. Ex-combatente da Guerra do Vietnã, monge Bhante descobriu na Ásia, após desligar-se das Forças Armadas americanas, o budismo, que o levou a renunciar à vida laica e ordenar-se monge, em 1975. Ali, começaria a aprender as lições que quer ensinar aos médicos.

"Acredito que a meditação é mais uma forma de prevenção do que de cura", diz Bhante. Da meditação, prática essencial da filosofia budista, tirou o que prega serem as lições efetivas de cuidados com a saúde e prevenção de doenças. Surpreso, constata que é o Ocidente, reino da razão e da ciência, o território em que mais cresce o interesse pela meditação aplicada à saúde. "Nessa porção do mundo, as pessoas têm o costume de tratar seus problemas a partir dos sintomas. É como olhar de fora para dentro", diz. "Ao contrário disso, deveríamos nos esforçar para sintonizar mente e corpo, para perceber os sinais que o organismo nos envia. Isso se faz por meio da meditação."

Divulgação

Rafael Ortiz, médico do Hospital das Clínicas de SP

Rafael Ortiz, do HC de São Paulo

A prática é especialmente indicada para combater os problemas recorrentes da vida nas grandes cidades. O monge gosta de contar, por exemplo, a história, quase transformada em parábola, de um grande executivo tratado por ele que sofria de terríveis enxaquecas. Depois de recorrer, sem sucesso, a diversos tratamentos da tradicional medicina ocidental, enfim curvou-se à meditação. O executivo livrou-se da dor de cabeça, garante o monge. "Aquele executivo conseguiu restabelecer a conexão entre mente e corpo e entender os sinais que vinham de seu organismo: stress e ansiedade eram os seus inimigos. Faltava-lhe viver o presente, desgarrando da angústia do controle do passado e do futuro", diz Bhante. "A meditação não vai tratar todos os problemas físicos, mas é importante entender que existem muitos problemas que se originam na mente." É o que a ciência ocidental chamaria de efeito psicossomático.

Não é preciso acreditar em tudo o que o religioso diz. Mas é importante saber que ele não prega no deserto. A palestra realizada no teatro do HC de São Paulo estava lotada de médicos de diversas especialidades. A audiência se explica. A prática da meditação vem se tornando mais e mais reconhecida como recurso terapêutico auxiliar a uma série de tratamentos convencionais. A ciência revela por quê. "Os exames de ressonância magnética e tomografias identificam as mudanças de padrão de funcionamento em áreas cerebrais quando se pratica a meditação", diz Ortiz, o ortopedista. Regiões relacionadas à felicidade passam a ser ativadas, enquanto aquelas ligadas à fuga e à luta – reações ao stress – deixam de serem ativadas. "Isso tem reflexo direto na maneira como o organismo mantém seu equilíbrio interno."

veja.com

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