domingo, 9 de junho de 2013

CADA UM NO SEU QUADRADO




Havia feito meu check-in e aguardava a hora do embarque, no aeroporto de Congonhas , em São Paulo. Fui comprar uma água e um café. Havia fila. Uma pessoa somente para tender. Outros dois conversando na lateral. À minha frente uma mãe com uma nenê no colo.  A atendente estava preparando uma mamadeira.  Assim que terminou assumiu o lugar da caixa para receber o pagamento. Aí não me contive...chamei o responsável...não estava...comedida, fiz alguns comentários: O que eu acaba de ver é uma transgressão muito grave pois já é de senso comum que a mesma pessoa que lida como o alimento não pode tocar no dinheiro, que este é um aeroporto internacional e que qualquer bar de periferia atende melhor, haja visto a fila, o preço abusivo, e pessoal...”NÓS VAMOS RECEBER A COPA DO MUN DO”...acordem!
                Mas não foi isso que me deixou mais chateada. Foi o meu sentimento de ser a chata, pois os demais pareciam não entender nada. Voltei quieta para o meu canto. Observando as pessoas,  pude perceber que muitos estavam com seu laptop, seu tablet, seu smartfone, seus fones de ouvidos.  Alheias ao que acontece ao seu redor, fora delas( no duplo sentido). A isto pode-se estender a presença da TV, em casa, nos restaurantes, no consultório  médico, no salão de beleza, no banco...tudo para nos distrair, não ver, não ouvir, não discordar,não pensar,  nos silenciar, nos alienar.
                Estou preparando uma palestra onde o título é : Dependência, Independência e Interdependência.
Estou passando a suspeitar que nossa cultura ocidental está superestimando a independência e a autonomia, a ponto de significar que não temos que dividir nada, nem o nosso olhar. Eu me basto, narcisicamente.

Outra situação, que tem me chamado muito a atenção, mas quando divido esta idéia com meus pares, sempre sou voto vencido, são os vidros escuros, geralmente quase pretos, dos carros. Os vidros do meu carro são esverdeados, bons o suficiente para amenizar a claridade. Mas o argumento não é a claridade, é a segurança. Nada mais inseguro do que questionar a segurança. Quanto medo! Duvido que tenha pesquisas sérias que validem este argumento. E o quanto tem se perdido em códigos de comunicação entre os motoristas. Quantas vezes os vidros escuros impedem uma boa visibilidade de  dentro para fora, de fora para dentro e ainda, nos cruzamentos, quando ficamos impedidos de ter boa visibilidade pois nos impede de ver através dos vidros dos outros carros.  Isto me parece ser mais um sintoma social do que qualquer outra coisa. Vem ao encontro da exacerbação do individualismo , que gera uma falsa sensação de segurança, uma busca para aplacar um pouco do desamparo e do medo. Mais ou menos o que faz  uma criançinha, que fechando os olhas, acredita que está a salvo pois ninguém a verá. 

Um comentário:

  1. Sobre os vidros escuros, sou solidária. É como andar em caixas herméticas. Às vezes vou atravessar e não sei se o motorista vai parar ou não na faixa, pois não vejo o seu rosto ou algum sinal manual. É como conversar com uma pessoa, eternamente de óculos escuros...

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