segunda-feira, 21 de novembro de 2016

PRECISAMOS FALAR SOBRE POLÍTICA



PRECISAMOS FALAR SOBRE POLÍTICA.


Uma cena hoje me comoveu. Eu caminhava para minha hidroginástica e percebi um  cachorro de rua perambulando na calçada. Caminhava visivelmente cansado e com fome. Fuçou num lixo em busca de comida e foi corrido por um senhor.  Enquanto transitava na calçada outros cachorros latiam para ele de dentro dos pátios das residências, demarcando seus territórios. O cachorro, em seu desamparo, ora saia da calçada e ia para rua, quando vinha carro voltava para calçada. Mais a frente o vi entrando num Posto de Saúde. Ele permaneceu no pátio , perto de uma fila de pessoas. Parece que ali ele encontrou um  refúgio onde por breves momentos poderia se recuperar de seu cansaço pois ninguém o escorraçou. Talvez por piedade ou/e por ser um espaço público , onde ninguém é o dono ao mesmo tempo que todos são, ninguém teve a iniciativa de enxotá-lo dali. Segui meu trajeto e não sei o paradeiro do pobre cão. Fiquei refletindo. Moradores de rua tem  nos espaços públicos,  praças, estações de metrô, marquises e  viadutos como  locais onde podem se recuperar de suas andanças intermináveis.  Em tempos de políticas neoliberais que tentam convencer a população que achatar o Estado, diminuir o Estado e com isto as políticas sociais,   é o mais eficaz em nome da eficiência e modernidade , que é a única solução para resolver a crise, assisto a tudo isto com muita preocupação. A política das  privatização reduz o compromisso que o Estado tem com o espaço público, com o coletivo, com o bem-estar social. Nessas condições a pobreza e o desamparo  aumentam assustadoramente. Como religiosa que sou, monja Zen Budista, as vezes vem uma “cobrança” e uma expectativa que eu possa assumir iniciativas de realizar trabalhos comunitários e voluntários para dar alguma assistência aos pobres e miseráveis. A Igreja Católica é uma referência nesse sentido e é compreensível que esse olhar seja dirigido para mim, como religiosa. Quando fui ordenada monja eu própria me cobrava “Faça alguma coisa”. Caridade e culpa são vetores cristãos. Me percebo contaminada por esta influência cristã e tenho que discernir entre esta postura e os preceitos budistas. As regras de ouro do cristianismo e do budismo são parecidos. Se pautam em misericórdia e compaixão. Fazer o bem a todos os seres. Fazer o bem sem olhar a quem, como dizem.

Desde 2014 o Brasil tem vivido fortes turbulências políticas que interferem no espaço público e privado. As coisas evoluíram de forma que os mais prejudicados novamente são os pobres e os oprimidos. Enquanto eu vivia o dilema pessoal sobre qual a melhor forma de colocar meus serviços religiosos à serviço dos outros, como cidadã fui acompanhando todo o cenário político do país e com isto aprendendo sobre política. Assim  concluí que neste momento, a minha melhor contribuição será me somar a tantos ativistas que cobram as devidas políticas sociais, lutar por justiça social. Há debates amplos que devemos nos envolver mas que estão interditados ,  assunto para outro momento . Um dos grandes debates interditado  é sobre política. “Política e religião não se discute”. À serviço de quem e do quê isto se mantém? Devemos começar desconstruindo esta falácia. Para  bem de todos os seres!

3 comentários:

  1. Bom ler isso! O Dharma a serviço dos excluídos, de quem mais precisa de ajuda na sociedade.

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  2. Obrigada pelo comentário que me estimula a seguir nessa tarefa.

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  3. Obrigada pelo comentário que me estimula a seguir nessa tarefa.

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