sexta-feira, 5 de março de 2010


QUEM SOU EU?

Após minha ordenação, que ainda não faz 1 ano, passei a me atrapalhar muito ao atender o telefone. Eu já não sabia mais me nomear. Já não era mais a Vânia que eu conhecia. Havia necessidade de me recriar completamente. Algo parecido aconteceu quando eu me separei e troquei meu nome, retomando o sobrenome do meu pai. Hoje parece que a coisa mudou e há mais consciência de que a mulher renegar o nome do pai é uma atitude motivada pelo falocentrismo e tentativa de manter a familia patriarcal conservadora.

Atualmente ao atender o telefone, pergunto com quem a pessoa deseja falar: Será com a Vânia dona de casa, a mãe, a filha, a psicóloga, a vizinha, a amiga? Com a Kokai, com a Monja Kokai quando há mais formalidade? Num primeiro olhar, o que define e determina nossas ações são os papéis que vivemos na vida. Se “pula” de um papel para outro o tempo todo. E nesse script já está inscrito tudo o que se espera da pessoa qua vai ocupar esse papel, esse lugar. Quais são as atribuições, ou seja, o quê fazer, cômo fazer, quando fazer...compondo um personagem. Aparentemente um lugar de ação onde determinadas competências são esperadas. Papel de mãe, pai, amigo, filho, sacerdote, médico, empresário, professor, etc. O Ego tem que ter uma capacidade adaptativa para poder circular entre esses papéis com o mínimo de atrito. Mas será que era desse Ego que Bodhidarma falava quando disse que ele não sabia quem era? Claro que não. Ele estava além do Ego e Não-Ego.

Eu estou falando justamente do contrário. É do Ego que nos define enquanto pessoa, uma identidade, compreendida a princípio, como única e singular. Tudo tem início em cada um de nós e só podemos contar com o ego que temos. Ele é o ponto de partida. Então nos aliemos a ele sem desprezar nenhum pedacinho dele. Eu pessoalmente, acolho todos os Eus, todos os Egos que já fui, desde àquela menina assustada e observadora, que desde pequeninha respondia pra qualquer coisa “isto é relativo” .Acolho também àquelas partes desprezíveis e feias, as mágoas, ranços, fraquezas, rabugiçes ,vícios (sobre isto gostaria de dizer que já parei de fumar) . Enfim, é nos dispormos a nos conhecer, como funciona esse meu ego, do que ele precisa para se fortalecer, onde ele precisa de amparo, contenção, limites, enfim, avançar e amadurecer . O ego deve ser visto como um aliado para atingir a tão cobiçada paz mental. Deve-ser ter cuidado para algumas interpretações equivocadas que dizem respeito a “abandonar o ego”. Esse mesmo ego é o que nos coloca em encrenca mas tb é o que nos liberta. O ego para se constituir tem demandas auto-preservativas e narcísicas que devem ser suficientemente atendidas. A partir da construção da identidade a mente egóica começa a fazer discriminações: eu – tu , e por aí vai toda uma sequencia de divisões, cisões, dualidades dilemas, conflitos, . Nosso ego limitado lida melhor com as partes do que com o todo, sendo que para isto deverá evoluir com esforços . Para a maioria da humanidade já é um desafio enxergar o que tá na ponta do nariz...sem ditorções. A prática do zen, do zazen, nos ajuda nessa expansão mental.

Quando Dogen atingiu a iluminação “deixando cair corpo e mente”, ele tinha um conhecimento profundo de si mesmo. Só podemos abrir mão do que temos, do que conquistamos, do que conhecemos...caso contrário, do que vamos abrir mão?

“Estudar o Budismo é estudar a si imesmo

Estudar a si mesmo é esquecer-se de si mesmo

Esquecer-se de si mesmo é estar uno com todas as coisas.”

Mestre Dogen

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