segunda-feira, 29 de novembro de 2010


DE CUMPRIMENTOS, ENCILHAS E LÉGUAS

Não sou historiador nem pesquisador, apenas quero registrar o que vai pelo meu pequeno mundo dos fins de semana, mais precisamente os campos sagrados de Unistalda. Pode no seu rincão a cousa ser diferente, tudo bem.

Nosso cumprimento é assim: a pessoa estende a mão com a palma aberta, os dedos juntos e só toca levemente na palma do outro. Não tem aquelas esgrimas e tapas no ombro e outros floreios.
Geralmente o peão tira o chapéu para cumprimentar o patrão. Também já vi muitos colocarem a mão na aba do chapéu e darem uma pequena levantadinha.
Nosso campeiro monta com o cavalo já fazendo a volta e coloca o outro pé no estribo com o cavalo já em marcha. As duas rédeas são seguras juntas na mão esquerda. A direita fica livre para atirar o laço, puxar a faca para cortar um galho no mato a fim de facilitar a passagem, para abrir uma cancela mesmo montado etc. ( e hoje para atender o celular..). Nada de segurar uma rédea em cada mão como se fosse uma carreta de bois.
Não vi aqui o costume que existe nos EUA de laçar a rês e apear pelo lado do laço com a perna boleada para a frente. Sempre se desmonta pelo mesmo lado que montou.
Nossa légua tem 6 kms. Há lugares em que são 6.600 metros, eu sei. Essa legua, num trancão, o cavalo faz em uma hora.
Uma coisa é cavalo de fazenda, campeiro e outra é cavalo de sítio.
O cavalo campeiro é inteligente, impaciente, e faz certas coisas sozinho. O cavalo campeiro não toma água em balde. Só no açude ou na sanga. Quando você chega na porteira com ele, ele encosta de lado e lhe dá 3 segundos para abrir a alça. Depois disso ele segue e lhe deixa com os dedinhos pendurados no arame. Também lhe dá 3 segundos para montar. Se você for lerdo vai montar na garupa e o flete vai lhe atirar fora. Na hora de apartar o gado, o cavalo vai ” pechar” o terneiro ou a vaca e fará movimentos súbitos. Se você for daqueles ” cavaleiros de cavalgadas de asfalto ou praia” ele vai lhe atirar no barro da mangueira em poucos segundos.
Na nossa região nunca vi os campeiros usarem selas. São usados bastos em cima dos ” xergões” para não assar o lombo do animal.
Na nossa região é impossível camperear sem o cavalo. Há lugares enlameados, de difícil acesso, onde só se chega de a cavalo. Nos nossos campos eles têm os cascos já acostumados às pedras, de sorte que não precisam ser ferrados.
O maior esporte, finalmente, é o rodeio. Falo no rodeio gaúcho mesmo, que obedece severas regras para não virar em coisa de cow boy. Há regras para a indumentária e o próprio tipo de laço.
Cavalguei muito quando era piazinho, mas naqueles matungos da colônia.
Aqui voltei a montar e o faço há 15 anos. É um ritual que me dá muito prazer. Já levei três tombos muito feios. Por isso respeito muito: o cavalo é um animal de 500 kgs, ele sente sua insegurança e se torna imprevisível ante um susto ou uma contrariedade. Por isso só monto nos meus, de minha predileção e jamais aceito montar fora das áreas de nossa propriedade, em cavalos alheios. E também uma regra de ouro: jamais se deve camperear ou sair de a cavalo solito.
Bom domingo e vamos rezar por tempo bom, ou seja, muita chuva.

Por Ruy Gessinger.



DE CUMPRIMENTOS, REGRAS E TRADIÇÃO NO ZEN.


Essa foi mais uma crônica agradável de ler de meu amigo e parente distante Ruy.

Ele não é um historiador mas tem muita história pra contar.

Cada tradição tem suas normas, costumes e regras. Nessa, ele descreveu como é a tradição campeira dos gaúchos aqui dos pampas. Sua crônica me inspirou a escrever um pouco sobre a tradição Zen-Budista, no aspecto que se refere especificamente ao cumprimento e postura correta.

Não é costume no Zen o abraço. Esse não é um costume no oriente. O gasshô, mãos palma com palma, unidas em frente ao peito, na altura do coração, é o gesto que substitui o abraço, ao mesmo tempo que faz uma flexão de tronco. Comunica também um pedido de licença, um pedido de desculpas, uma atitude de reverência e de respeito, etc.. Apesar das pessoas não se tocacem não significa que não se gostem e que não tenham um apreço muito grande um pelo outro. Venho de um costume onde o abraço e os tres beijinhos são um hábito, o que não garante necessariamente que seja feito com contato e afeto. Desde que eu me ordenei monja, tenho refletido muito sobre o costume de abraçar. O Zen, como o Budismo no geral, não vai se impor e reprimir uma tradição. Sou livre para decidir entre abraçar ou não. A reflexão é sobre o condicionamento de abraçar,às vezes sem nenhum significado que não seja de repetir um hábito, de tentar garantir uma simpatia, de um floreio para seduzir e ser carismática. Estou tendo a grande oportunidade de viver uma pouco da cultura japonesa. O Zen-Budismo emergiu no Japão há mais de 1.000 anos, já trazendo alguns costumes da Índia e da China. Era tradição na India, o disípulo dar tres voltas em torno do mestre e em seguida agachar-se e lhe beijar os pés. Nas religiões Afro-Umbandista tem a tradição de “Bater Cabeça”, algo parecido. No Budismo faz-se as reverências até o chão. No Zen, ao prostrar-se no chão, toca-se a testa no chão elevando-se as mãos até a altura das orelhas. Geralmente é uma sequência de três reverências que se chama Sampai e são feitas em cerimônias. Praticantes budistas no dia adia se cumprimentam com um gasshô(palma com palma) , que expressa afeto, atenção, consideração e respeito, as vezes uma distância ótima que preserva os bons e saudáveis relacionamentos.

Gasshô!






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