quinta-feira, 1 de julho de 2010


QUEM CUIDA DOS NOSSOS MENINOS?

O que fazemos com o que testemunhamos? Com as cenas que presenciamos? Entramos nela ou só assistimos? Qual a nossa participação? Somos observadores ativos ou passivos?

A cena que vou narrar agora foi surreal.

Estava no meu espaço de trabalho que também é nosso Centro de Prática. Desci até meu carro para buscar 4 rolos de papel higiênico, avulsos, pois havia comprado um fardo e pela falta de espaço, ia trazendo aos poucos, na medida da necessidade. Do outro lado da rua tem uma pizzaria que só abre a noite. Pelo fato de ter uma cobertura, seguidamente há algum morador de rua dormindo. Havia um jovem dormindo. No que eu tenho em mãos 4 rolos de papel higiênico vem um soldado da Brigada Militar, de moto, e sem mais nem menos, sobe na calçada e acelera sobre o rapaz que dormia. O soldado repetiu a manobra por tres vezes, enquanto eu corria para acudir o jovem antes que a moto quebrasse suas pernas. Me coloquei entre o jovem e a moto, sendo que ele consegue levantar-se, atordoado. Fico de costas para ele e encaro o policial, que transtornado, gesticulava e chamava um colega pelo rádio. Empunho meus braços sobre o peito dele, tentando acalmá-lo, dizendo que ele parasse com esta abordagem pois ele ia acabar quebrando o menino e eu teria que denunciá-lo. Ele apontava para cabeça ( gesto que quer dizer que o outro é louco), enquanto dizia que com esse tipo de gente não tem mais jeito. Sempre a postos, começei a dizer que o rapaz não escolheu dormir na rua, que está dificil pra todo mundo, e que o trabalho dele realmente não é fácil, mas que não é desse jeito que ele vai resolver alguma coisa, que esta cena não fica bem pra corporação, que o superior dele não iria gostar de saber disso, bla,bla,bla. Me apresentei como monja e perguntei se ele sabia que o primeiro monge zen-budista do nosso Estado é seu colega. Ele respondeu “Tô sabendo”.

Nisso o clima de tensão e hostilidade se dissolveu, sem que em nenhum momento ele tenha sido agressivo comigo ou desrespeitoso. Senti piedade por ele também.

A cena termina com eu segurando o papel higiênico.

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