quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010



PENSO? LOGO EXISTO?

PERGUNTAS E RESPOSTAS




Os avanços e conquistas da humanidade em determinados segmentos são inquestionáveis, principalmente nestes dois últimos séculos. Avanços em todas as áreas das ciências e isto se reflete no nosso dia-a-dia: na medicina, nas comunicações, em toda a tecnologia, a ponto da máquina substituir o homem em muitas tarefas. O mundo antes e depois do ship. Isto tudo facilitou nossa vida e de fato, qualquer dona de casa hoje não consegue se imaginar lavando roupa a mão, como faziam nossas mães, colocando brasa no ferro de passar roupa, como faziam nossas avós, olhar TV preto e branco, ou um pouco antes, ter só o rádio como entretenimento. Hoje você só coloca seu carro numa estrada de terra por escolha, geralmente quando quer retirar-se para um lugar mais tranquilo. Meu pai era camioneiro e tinha um FNM. Quando eu era pequena lembro de muitas viagens que fiz com ele nas férias e muitas ainda eram em estradas de chão, se levando muito tempo para chegar ao destino, o motor era barulhento , por ser dentro da cabine, o calor era bastante, mas suportável. Hoje, mesmo o motor sendo fora da cabine, o calor é muito maior e ar condicionado já não é mais artigo de luxo. Nostalgia. Você já ouviu o barulho do motor de um FeNeMe? Raramente, mas ainda aconteçe de cruzar com algum, geralmente muito lento, mas ainda valente, sobrevivente.

Por conta de tantas descobertas científicas, avanços tecnológicos, satélites, o espaço sendo desbravado, hoje está provado que a Terra não é o centro do universo. Nunca foi, mas um dia isto era dito como verdade, e quem dizia o contrário corria o risco de ser queimado pela inquisição. Enquanto que na idade média as explicações sobre a origem da vida e do universo passavam pelo que acreditava a igreja e seus cânones, que tudo era obra divina, tudo criação de Deus, que até a mulher foi criada a partir de uma costela de Adão, hoje aconteçe um deslocamento para outro extremo, quando é inaceitável não haver uma explicação científica que explique isso ou aquilo. O pensamento cartesiano – “Penso, logo existo!”, cada vez mais atravessando nossa cultura. Isto também foi um avanço, pois retirou a civilização da infância quando esta conseguiu acessar explicações mais racionais e fundamentadas para explicar suas questões existenciais: de onde viemos e para onde vamos. Por outro lado, tem algo que não mudou: A necessidade obsessiva que o ser humano tem de ter resposta pra tudo, de preferência, que esta caia do céu ou da ciência. Não importa muito de onde venha, mas que ele tenha alguma resposta ao seu alcançe. Até Freud é evocado. “Freud explica.”

E quando tem perguntas que não tem respostas?

E quando temos que buscar dentro de nós as respostas?

E quando a resposta já está dentro da pergunta?

E quando a palavra é insuficiente?

E quando a resposta não é linear mas multifacetada?

E quando é só sim ou não?

E quando é sim e não?

E quando está além do sim/não?

E quando o silêncio é a resposta?

Gasshô



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010


“ Há dois agoras. Um que passa. Neste instante já se foi. E outro agora. No qual tudo se silencia e é. Extático momento presente eterno. Agora. Neste instante. Nesta hora. Todo o passado e todo o futuro. Respirando. Sendo. Existindo. E o céu voa com os pássaros. As águas são profundas até a profundeza. Não as águas que podem ser barradas, com margens e praias. A água das águas é vasta, profunda, clara. Nela os peixes nadam suavemente. No grande céu, maior do que o firmamento, pássaros voam. Ao voar dos pássaros, o céu também voa.”

Monja Coen

sábado, 20 de fevereiro de 2010


Todo mes de novembro acontece a feira do livro em Porto Alegre. Atualmente, mais por tradição, costumo fazer esse passeio entre as incontáveis estandes, circular entre as pessoas num vai e vem, pipoca, praças de alimentação, sessões de autógrafos...Nesse passeio no mundo encantado da literatura, me dou livros de presente. Alguns que recomendo: Espelhos de Eduardo Galeano; O Homem sem Gravidade de Charles Melman; Amor Líquido de Zygmunt Bauman; As Boas Mulheres da China de Xinran.

Atualmente estou lendo India, de Jean-Cleude Carrièrre. Ótimo, dá para entender um pouco melhor em que contexto histórico emerge Sidarta Gautama , o Buda. Tenho em pequeno grupo de amigas onde circulamos nossos livros, sendo que este é emprestado. Já tem gente na fila querendo lê-lo.

Na última feira fui com uma listinha que fico fazendo durante o ano. Mas tem também aquele olhar que paira sobre e de repente pousa em algum livro que pode ser interessante. Foi assim que adquiri o livro Princípio da Compaixão & Cuidado de Leonardo Boff com a participação de Werner Muller.

Nesse pequeno livro ele discorre sobre estes princípíos no oriente e no ocidente.

Justifica este trabalho por ser um tema de relevância atual, onde cada vez mais milhares de pessoas são vitimizadas pela competição, em detrimento da cooperação, estimulados por um mercado globalizante, que gera a pobreza e a crescente exclusão social em escala mundial, assim como também, a sistemática agressão ao sistema Terra, colocando em risco, de maneira irresponsável, o futuro da humanidade.

Realça a necessidade de elevar o pathos(sentimento) sob o logos(razão), para a construção de um mundo a partir de laços afetivos. Eu acresentaria também, o ethos, a ética. Nessa equação, a compaixão e o cuidado devem ser acessados e estimulados. Delicadamente, ele cita a obra do Pequeno Príncipe – “Só se vê bem com o coração.”

Se inspira na física quântica ao dizer que a lei fundamental do universo não é a competição e o triunfo do mais forte, e sim, a cooperação de todos com todos.

“Tudo esta ungido por uma rede incomensurável de relações...Tudo tem a ver com tudo, ..em todo os momentos e em todas as circunstâncias.”

Cita o filósofo Heideger...”ser no mundo com o outro...ser no mundo é cuidado!”

Seguindo, o livro traz uma coleção de textos que documentam e provocam nossa consciência para despertar que o “princípio da compaixão constitui uma importante corrente de nossa herança cultural e ética, sendo uma condição para a nossa sobrevivência.”

Boa leitura!

Gasshô

sábado, 13 de fevereiro de 2010


DESPEDIDAS

Durante esta semana acompanhei o luto que minha filha fazia, pela perda de duas pessoas muito queridas por ela.
Há quatro meses atrás, a família de sua grande amiga da faculdade recebe um terrível diagnóstico. A mãe está com metástases de um melanoma extraído há 5 anos atrás. Na época, uma “pinta”, dessas que habita nosso corpo e que a gente se habitua e não percebe como ameaça. Essa mãe era chamada pela minha filha de “ Tia Tânia”, como essa geração costuma se referir aos mais velhos. Ela sofreu muito, assim como toda sua família. Seu sepultamente aconteceu na 4ª feira, dia 10 de fevereiro. Minha gratidão por teres acolhido tão bem a minha filha.
O mesmo aconteceu com o querido professor de minha filha, Dr. Leonel Lerner, Cardiologista e Nefrologista. Desde o início da faculdade de Medicina, indo agora para o 4º ano, eu somente a ouvia falar desse professor. Era seu ídolo, seu mestre. Um dia fez questão de levar a máquina fotográfica e pedir para tirar fotos com ele. Há umas duas semanas atrás ele teve um AVC de tronco e entrou em coma. Seu sepultamento acorreu dia 11 de fevereiro. Minha gratidão por teres contribuído com a formação de minha filha.

Por mais avançados que sejam os recursos da medicina, tem hora que a cura não é possível. A vida se esvai e nada há para ser feito. A vida é uma condição em si mesmo. Tem início, meio e fim. A morte é uma condição em si mesma - Tem início, meio e fim –
Assim, onde começa a vida e onde começa a morte?

Dia 15 de fevereiro, cerca de 2600 anos atrás, aconteceu a morte de Buda – o Parinirvana. Budas não morrem, entram em Parinirvana. Aqueles que adentram a grande tranqüilidade. Essa data é celebrada no calendário Budista e todas as sangas se reúnem para retiro.
Buda, então com 84 anos, deitado entre duas árvores, numa noite de lua cheia, rodeado por seus discípulos, monges e monjas, leigos e leigas, fazia seu passamento. Dizem que até os pássaros e outros animais se aproximaram silenciosamente para se despedirem de Buda. Todos sofriam muito esta perda. Mas Buda estava sereno e ainda teve forças para proferir seu último ensinamento. (Parinirvana Sutra)
Entre os inúmeros ensinamentos um dizia :
“Não se lamentem. Não existe encontro sem despedida.”



ELA ESTA BEM NA FOTO!

Quem acessou o site da Monja Coen e viu as fotos do DIA DE PASSEIO, certamente estranhou as fotos de uma gata dentro de uma gamela. Eu explico: Aprendendo eu a lidar com o programa Picasa, me atrapalhei e enviei fotos a mais. Coen Sensei, como sempre, acolhe a tudo e a todos. Não julga, não discrimina, não exclui...
Mas a mimi é lindinha não é?
(obs.: a gamela foi devidamente desinfetada.)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010


"Caminhar em direção ao Buda verdadeito é já tê-lo encontrado."
Moriyama Roshi

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010


Somente quem vive com a terra uma relação
de amor escuta a voz da pedra.”
Marcelo Barros
A Noite do Maracá

Assim também...

Somente quem vive com o Zen
uma relação de amor e confiança,
consegue ouvir a voz do sino,
o chamado do han,
a entrega no sampai,
e adentrar no vazio das possibilidades.”

Por mais que...

Nos extremos das possibilidades do vazio
É preciso ajustar-se ao ar rarefeito
das incertezas...

Busco expressar em palavras as motivações que podem levar alguém a se tornar um praticante Zen-Budista. Este é um desafio difícil de responder plenamente, pois, como já disse anteriormente, o zen está além das palavras. A vivência no zen é pessoal e intransferível. Apesar disso, é possível algumas especulações, a partir das minhas vivências e observações.
A maioria das pessoas estabelece seu primeiro contato com o Zen-Budismo movidos pela curiosidade, o que não deixa ser uma boa razão. Geralmente simpatizam com o Budismo e nem sabem que existem diferentes escolas e tradições. É comum trazerem consigo alguma expectativa, geralmente de obterem mais calma, sentirem-se mais em paz, “mais zen”, como os leigos se referem. Trata-se de um zen para consumo próprio, como alguns que vieram em busca do zazen(meditação) porque tinham um concurso, um vestibular pela frente. Sem problemas, que bom se a meditação pode ajudá-los. É essa sua travessia no momento!
Tem os que vem por modismo, mas estes geralmente permanecem muito pouco tempo, ou sua participação é muito irregular , faltando consistência e compromisso consigo mesmo, que dirá com o grupo de praticantes(sanga).
Tem o buscador, aquele que realmente está buscando um caminho espiritual que contemple suas necessidades. Se este buscador já possui suficiente informações a respeito do Zen-Budismo, ele já sabe mais ou menos o que vai encontrar, e pode até sentir um alívio, pois achou o que procurava. Muitas vezes quem não sabe o que quer não encontra quando acha, como diz um ditado. Assim, quem sabe o que quer, encontra quando acha.
Por tratar-se de uma prática religiosa é compreensível e esperado que pessoas em sofrimento busquem o zen. Nossa humanidade, como dizia Nietzsche “ demasiadamente humanos...”. Nossa natureza humana frágil, expressando sua confusão, solidão, desamparo, medo, inconformidades, frustrações, inquietudes... Questões centrais do viver a vida.

Até mais!
Gasshô

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

SURGE O ZEN VALE DOS SINOS

Quero contar um pouco sobre a história dessa logo. Bonito não é mesmo?
Comecei a pensar em criar uma logo para nosso espaço. Iniciei uma campanha, tipo “ tempestade de idéias” pedindo ajuda a quem entendia mais disso, alguém mais criativo. Mas eu ficava matutando e vinha algumas inspirações.
Certo dia, no mês de agosto de 2009, eu participava de um evento na Unisinos e na saída um jovem me chama pelo nome de monja. Começamos a conversar e disse ele que já me conhecia e gostava muito do Zen. Conversamos um pouco e perguntei o que ele fazia. Disse que estudava na Unisinos (não lembro o quê) mas era das áreas afins. Dividi com ele algumas idéias sobre meu projeto. Ele disse então que gostaria muito de me presentear com este trabalho. Seu nome é PAULO HENRIQUE ALVES ROSA. Uns dias depois ele manda sua obra por email e eu nunca mais o vi pessoalmente.
Muito Obrigada!
Gasshô.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010






ORDENAÇÃO MONÁSTICA EM 02 de MAIO de 2009.

Costurando o manto com as tias.
O manto sendo riscado e em seguida cortado.

"Vasto é o manto da libertação.
Sem forma é o campo de benefícios
Uso os ensinamentos do Tataghata
Para salvar todos os seres."

O manto sendo riscado .

PROSSEGUIMOS...

Inicialmente nosso altar era parte de uma escrivaninha e algum tempo depois uma empresa de móveis – Armarius Design nos doou um feito por eles, a pedido de nosso praticante Silvio Shuin. O Buda do altar nos foi cedido por Monge Dengaku, imagem talhada a mão, trazida do Japão por Moriyama Roshi. O sino(keso) foi presente de Mirty, irmã de Zuiten. Foi comprado numa pequena cidade perto de Munique chamada Freising. O mokugyo(instrumento de madeira em forma de peixe, utilizado nas cerimônias) e o inkin (sino de mão) foram presentes de Monge Kohô. O candelabro e o vaso do altar presente de Gisela, comprado em uma feira de antiguidades em Lisboa, perto do Mosteiro dos Jerônimos quando lá estivemos hospedados na casa de nossa amiga Vera Doen.
A luminária doação de Kobun e assim cada um tem contribuído na medida de suas possibilidades.
Já não era um zendô móvel – tínhamos o necessário, e o zendô tornou-se uma espaço simpático e agradável. Precisava agora de uma monja de verdade. Durante o ano de 2008 fui me preparando internamente para ser monja. Me aproximei cada vez mais de Sensei Coen Roshi , minha mestra, que me ordenaria. Sentia-me compreendida e aceita incondicionalmente por ela. Em agosto de 2008 corto o tecido do meu manto e passo a costurá-lo a mão até o mês de março de 2009. A costura de meu manto foi carregada de valor emocional e tive necessidade de compartilhar “alguns pontos” com as mulheres amigas que fizeram parte de minha vida: Minha mãe, tias, irmãs, cunhadas, afilhada, prima, comadre .
Esta costura falava também do processo interno que ia acontecendo dentro de mim.
Em novembro de 2008 Sensei Coen vem para são Leopoldo abençoar o zendô. Significou me abençoar também.
Em 02 de maio acontece a ordenação monástica.
A experiência vinha mostrando que seria melhor definir as lideranças e suas atribuições e por conta disto as sangas se independizaram – Surge o Zen Vale dos Sinos.
Agora então explico: A região onde São Leopoldo se localiza é O Vale do Rio do Sinos – não é sino no literal pois tem a ver com a sinuosidade do rio que atravessa a localidade.
Nós, porém escolhemos colocar o nome Zen Vale dos Sinos, identificados com esse ícone das tradições religiosas.